Matéria publicada pela Voice of The Oceans
Em estudos feitos pelos pesquisadores brasileiros Anne Justino e Guilherme Ferreira, foram apresentados resultados assustadores sobre a vida marinha em águas profundas no Brasil, em amostras coletadas pela pesquisadora, foram apresentadas entre uma ou uma partícula e meia de microplástico em seu sistema digestivo.
A pesquisa aconteceu nas regiões adjacentes aos estados de Pernambuco e Rio grande do Norte de Fernando de Noronha e Rio Grande do Norte, na chamada “quebra de plataforma continental”, ou seja, após a região submersa do continente e nas imediações do Arquipélago de Fernando de Noronha e montes submarinos do RN. Devido a um fenômeno das correntes de fundo, essas duas regiões têm alimento em abundância, sendo muito propícia para a vida marinha.
“Umas das ideais que também investigamos foi avaliar se tinham diferenças entre a quantidade de microplásticos nos peixes que habitam a região adjacente a plataforma continental em relação aos que habitam a região de Fernando de Noronha. E apesar de Fernando de Noronha ficar a mais de 350km do continente (longe das principais fontes de contaminação) os peixes das duas regiões apresentaram uma taxa de contaminação muito semelhante, o que é preocupante por evidenciar a grande capacidade de dispersão dos plásticos, mesmo para regiões muito remotas.” – Guilherme Ferreira e Anne Justino
Das amostras coletadas, as mais interessantes para ilustrar a pesquisa são: o peixe –lanterna e a lula vampira-do-inferno, ambos animais mesopelágicos, que vivem na região do oceano que varia de 200 à 1000 metros de profundidade. Esses exemplares são perfeitos para entendermos duas formas de como o plástico alcançou a alimentação de animais marinhos em grande profundidade.
O peixe-lanterna é encontrado em até 1500 metros de profundidade, porém ele costuma migrar para partes mais superficiais em busca de alimento e é nesse momento que pode consumir o microplástico, seja ingerindo acidentalmente durante a alimentação, ou até mesmo pela respiração.
O microplástico nada mais é do que uma partícula de até 5 milímetros e como o material não se decompõe com o tempo ele se desfaz nestes pequenos pedaços, hoje, sabe-se que existem até o nano plástico ou partículas ainda menores, que se misturam com a água e formam o que chamamos de “sopa de plástico”.
Por serem tão pequenas, é fácil para um animal acabar ingerindo o material acidentalmente, como o peixe-lanterna. O processo de alimentação desse peixe acontece na superfície durante a noite, e logo após se alimentar ele volta para águas profundas, mantendo o padrão de comportamento. E foi entendido pelos pesquisadores que essa é uma das formas que o microplástico atinge as regiões profundas.
A segunda maneira em que o microplástico atinge essas regiões, pode ser ilustrada pela lula-vampira-do-inferno que se alimenta da chamada “neve marinha”, que nada mais é que do que um conjunto de partículas orgânicas geradas por seres vivos, como fezes, fragmentos de pele, etc. Essa matéria imerge da superfície até a profundidade que o animal vive. Assim, o microplástico consumido por animais de áreas superficiais, também acabam entrando na alimentação dessas lulas. O problema para estes animais é tão grave, que a quantidade de microplástico encontrada em seu organismo é 30 vezes maior do que a encontrada nos peixes-lanterna, por exemplo.
E caso você se pergunte como os peixes confundem a matéria não orgânica com comida, a explicação é simples. Quando ela permanece por certo tempo no mar, a partícula de plástico pode abrigar colônias de bactérias e outros microrganismos, e como boa parte dos peixes, moluscos e outros animais marinhos são predadores olfativos, ou seja, encontram a presa pelo cheiro, o microplástico colonizado por estes microorganismos a matéria passa a “ter cheiro de comida” para eles.
Ainda são poucas as pesquisas fora do laboratório e que documentem as reações que o microplástico pode causar no organismo desses animais. Porém, os estudiosos citam algumas pesquisas feitas com experimentos em laboratório e que já demonstram alguns problemas neurológicos em algumas espécies, além disso Anne e Guilherme pedem atenção para os aditivos químicos que já estão presentes no material e são levados pelas partículas, e podem ter reações adversas no sistema digestivo e até mesmo nervoso dos peixes.
Com essa pesquisa podemos ter uma ideia da dimensão que o problema do plástico nos oceanos está tomando, sabe-se que existem partículas de microplásticos até mesmo em fossas marinhas, e através dessa pesquisa brasileira, podemos entender como estes fragmentos podem chegar tão longe!
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