A Diversidade dos Peixes Pelágicos Profundos e Sua Importância para o Clima e os Ecossistemas

Uma recente síntese global sobre peixes pelágicos profundos destacou a notável diversidade e o papel crucial dessas espécies para a vida na Terra. Os oceanos abrigam a maior biomassa de vertebrados do planeta, uma riqueza ainda amplamente inexplorada, mesmo por cientistas. Essas espécies, que habitam as profundezas, desempenham um papel essencial no equilíbrio dos ecossistemas globais e na regulação do clima, segundo uma equipe de ecologistas marinhos do IRD e parceiros. A pesquisa é baseada em dados coletados em expedições oceânicas conduzidas em várias partes do mundo.

A Riqueza Oculta dos Oceanos Profundos

As profundezas oceânicas são frequentemente vistas como ambientes homogêneos e simples, onde as espécies poderiam ser exploradas sem grandes consequências. No entanto, estudos recentes, incluindo campanhas do Laboratório Misto Internacional (LMI) TAPIOCA na costa do Brasil, desafiam essa visão equivocada.

“As diferentes zonas pelágicas foram analisadas por diversas disciplinas, da física à ecologia, estudando a biodiversidade em todos os níveis, das bactérias aos predadores”, explica Arnaud Bertrand, ecologista marinho do IRD.

Leandro Nole Eduardo, também ecologista marinho do IRD, investigou mais de 200 espécies, examinando suas morfologias, dietas e migrações, revelando uma diversidade impressionante nas profundezas, ainda maior que a das espécies de superfície.

Alimentação, Defecação e Armazenamento de Carbono

O peixe-víbora (Chauliodus sloani) é um predador que vive entre 200 e 4700 metros de profundidade. Foto: IRD-LMI Tapioca.

Uma descoberta importante de Leandro Nole Eduardo foi o comportamento alimentar especializado dessas espécies, antes vistas como generalistas devido à escassez de fontes de alimento sem fotossíntese nas profundezas.

“Presumíamos que as espécies pelágicas profundas fossem oportunistas e consumissem qualquer alimento disponível, dada a ausência de fotossíntese nessas profundidades. No entanto, descobrimos que elas são altamente especializadas em suas formas de alimentação, para reduzir a competição”, explica Leandro.

Alguns peixes, por exemplo, usam a bioluminescência para caçar, enquanto outros realizam migrações verticais para escapar de predadores e se alimentar. Essas migrações permitem capturar carbono na superfície, transportando-o para as profundezas e liberando-o por meio da respiração e defecação. “A quantidade de carbono transportado depende do tipo de alimento: uma espécie que se alimenta de pequenos crustáceos não transportará tanto carbono quanto um peixe predador,” observa Leandro. Esse processo contribui para o ciclo global do carbono, essencial para o equilíbrio climático.

Preservação dos Socio ecossistemas Profundos

Foto: IRD-LMI Tapioca

Esses ecossistemas, ainda pouco compreendidos, são altamente vulneráveis às mudanças climáticas. “Estimamos uma perda de 20% na biomassa de organismos pelágicos profundos até 2100”, alerta Arnaud Bertrand. Tal declínio não virá sem consequências, pois os oceanos profundos são socio ecossistemas essenciais, tanto para as populações humanas quanto para a vida na Terra. Além dos efeitos prejudiciais ainda não identificados, sua degradação teria grandes implicações para as mudanças climáticas, que ainda não são consideradas nos modelos do IPCC.

Para evitar o pior, é essencial preservar esses espaços distantes, mas vitais.

Referência: Les espèces pélagiques profondes : méconnues mais essentielles