Este texto relata as atividades desenvolvidas em dois territórios pesqueiros de Pernambuco durante os meses de junho e julho de 2024, fruto de uma sólida parceria entre o LMI Tapioca, pescadores artesanais, Colônia Z07 de Rio Formoso e a ONG Caranguejo Uçá.
Festa de São Pedro em Rio Formoso reúne comunidade pesqueira e parceiros em celebração e debate sobre a importância do pescador
A tradicional Festa de São Pedro, padroeiro dos pescadores, foi celebrada em Rio Formoso no dia 29 de junho, reunindo a comunidade local e parceiros para um evento de cultura, fé e diálogo. Pesquisadores do LMI Tapioca, comunicadores do coletivo Caranguejo Uçá e pescadores da Ilha de Deus uniram-se à comunidade de Rio Formoso para participar de uma série de atividades e também comemorar a profissão, além disto é um momento dos pescadores refletirem coletivamente sobre os desafios enfrentados na pesca artesanal.
O evento começou com uma procissão de barco que percorreu o estuário de Rio Formoso em barcos, com cânticos em homenagem a São Pedro e reflexões sobre a importância do papel de pescador. Após o almoço, servido na Colônia Z07 com pratos típicos da região, os participantes se reuniram para uma roda de conversa organizada pelo LMI Tapioca, que discutiu os impactos ambientais e sociais que afetam a pesca artesanal. A ação também incluiu uma apresentação com o objetivo mostrar resultados preliminares da pesquisa de planejamento espacial marinho desenvolvida nos territórios pesqueiros de Rio Formoso e Ilha de Deus. Uma das atividades do projeto de extensão é atender às demandas locais. Desta vez, houve a finalização de duas demandas, que foi a tradução para o português do artigo sobre as percepções das mudanças globais dos pescadores de Rio Formoso e no final houve uma intervenção artística que renovou a fachada da colônia de pescadores com nova pintura e grafite.
Entre os temas abordados no debate, destacaram-se os desafios relacionados à poluição, à preservação dos manguezais e à luta pelo reconhecimento e direitos das comunidades pesqueiras. As mulheres foram apontadas como figuras centrais na preservação da pesca sustentável e na gestão das colônias e associações. O evento também serviu como um espaço para a troca de experiências entre pescadores de diferentes regiões, buscando soluções conjuntas para os problemas enfrentados. Durante a conversa, houveram relatos emocionantes de pescadores que já fizeram parte da história de Rio Formoso. Muitas famílias migraram de Rio Formoso para Ilha de Deus segundo relatos dos pescadores.
“Estou muito emocionado, depois de 35 anos estou voltando a Rio Formoso. Seu Mosquito, Pescador da Ilha de Deus.”
A roda de conversa é um esforço entre extensionistas, pescadores, pesquisadores e comunicadores na busca da Gestão Pesqueira Participativa. A celebração foi organizada pelos barqueiros e pescadores de Rio Formoso, com apoio da prefeitura de Rio Formoso e do grupo de extensão LMI Tapioca.
LMI Tapioca participa do encontro “A Crise Climática e os Desafios dos Territórios Pesqueiros”
No dia 27 de julho de 2024, o grupo de pesquisa LMI Tapioca foi convidado no encontro “A Crise Climática e os Desafios dos Territórios Pesqueiros”, realizado na sede da ONG Caranguejo Uçá, com o objetivo de debater os impactos das mudanças climáticas nas comunidades pesqueiras e suas formas de adaptação. O evento reuniu representantes de comunidades tradicionais, pescadores, pesquisadores, parlamentares e lideranças comunitárias, todos engajados em discutir soluções para as problemáticas enfrentadas por esses territórios. A discussão central girou em torno dos riscos que o aumento do nível do mar e os eventos climáticos extremos representam para a preservação da biodiversidade, os modos de vida das populações costeiras e a economia local. Apesar da relevância dessas comunidades para a história e a cultura da região, políticas públicas voltadas à adaptação climática permanecem escassas.
Durante o evento, o LMI Tapioca apresentou os resultados preliminares de sua envolvendo os pescadores de Rio Formoso e da Ilha de Deus. Além disso, o secretário de pesca, Cristiano Ramalho, mencionou a implementação futura de uma série de medidas, como a criação de uma bolsa de juventude para territórios pesqueiros e uma parceria com a Fiocruz para melhorar a saúde das comunidades de pescadores. Os debates também levantaram questões como o Projeto de Lei 256, que visa regular o território pesqueiro, os impactos do Porto de Suape e da ferrovia Transnordestina, e os desafios enfrentados por pescadores impedidos de exercer suas atividades por causa de barreiras físicas em áreas de mangue. Já os pescadores relataram que a presença de pesquisadores nos territórios podem ajudar trazer reconhecimento.
Uma metodologia aplicada no evento dividiu os participantes em grupos para discutir problemas e soluções de maneira criativa. A partir dessas discussões, uma proposta surgiu: a criação de uma plataforma digital que permita mapear territórios pesqueiros e seus desafios, oferecendo um canal acessível para que os pescadores denunciem as questões enfrentadas diariamente. Essa iniciativa foi inspirada em projetos similares, como o mapa desenvolvido pelo coletivo da Rádio Amnésia para mapear os problemas das comunidades indígenas. Além disso, os grupos realizaram peças teatrais que permitiram aos pescadores expressar várias demandas, que serão formalizadas em um documento a ser encaminhado à secretaria nacional de pesca.
O evento destacou a importância de ações urgentes para garantir a sustentabilidade e os direitos dos pescadores artesanais, que enfrentam não só os impactos das mudanças climáticas, mas também a falta de políticas públicas adequadas.
Acompanhamento das Pescadoras Artesanais da Ilha de Deus e Rio Formoso em Parceria com a Colônia Z07 e Caranguejo Uçá
Acompanhados pelo Sr. José Joaquim, popularmente conhecido como Sr. Mosquito, navegamos pelas águas do Rio Capibaribe, na Região Metropolitana do Recife, para documentar as atividades pesqueiras locais. Durante a jornada, além de registrar o cotidiano dos pescadores, tivemos a oportunidade de ouvir relatos sobre os desafios enfrentados na pesca artesanal. Muitos pescadores mencionaram a falta da Carteira de Pescador, essencial para acessar direitos trabalhistas, e destacaram problemas de saúde decorrentes das condições precárias de trabalho. A poluição do rio foi outra queixa recorrente. Edivaldo, pescador do Pina, relatou que continuava trabalhando mesmo com a perna deslocada, aguardando uma cirurgia, mas, sem a Carteira de Pescador, não conseguia acessar o auxílio-doença, expondo ainda mais a vulnerabilidade dos trabalhadores da pesca artesanal.
Edivaldo, pescador do Pina, relatou que continuava trabalhando mesmo com a perna deslocada, aguardando uma cirurgia, mas, sem a Carteira de Pescador, não conseguia acessar o auxílio-doença, expondo ainda mais a vulnerabilidade dos trabalhadores da pesca artesanal.
No dia 20 de agosto, o grupo LMI Tapioca esteve em Rio Formoso acompanhando as pescadoras artesanais em uma atividade de pesquisa e registro. Durante essa experiência única, o grupo teve a oportunidade de participar da prática com a presidenta da Colônia Z07, Cícera, o ex-presidente da Colônia Sr. Chico, e outros pescadores e pescadoras da região. Entre histórias de vida, desafios e memórias da pesca, cada relato enriquecia ainda mais o conhecimento sobre a pesca artesanal local.
Foi possível registrar as pescadoras de Rio Formoso que dominam diversas técnicas de pesca no estuário, capturando camarão, sururu, marisco, siri, aratu, peixes e outros frutos do mar com maestria. Cada pescadora possui um estilo único, demonstrando habilidade e tradição na retirada de diferentes tipos de pescado, preservando uma prática que é vital para a economia e cultura da região. Foi um momento de troca, onde se pôde ouvir histórias que só esse encontro proporciona, revelando a riqueza de conhecimento que existe em cada jornada de pesca.
Redação
Cristiano Lopes
Edição
Latifa Pelage & Karla Albuquerque