COLÔNIA Z07 DE RIO FORMOSO DESMISTIFICA FALTA DE PESCADO E APOSTA EM SUSTENTABILIDADE
Rio Formoso, PE – 27/07/2025 – Em uma reunião que tratou da gestão costeira participativa, tradição e ciência se encontraram. O encontro reuniu pescadores, pesquisadores e representantes da empresa Neoenergia em um diálogo produtivo sobre sustentabilidade, tecnologia e saúde do pescador.

Conflitos e desafios enfrentados pelos pescadores na criação da RESEX
A tensão em torno da criação da RESEX (Reserva Extrativista) foi abordada com preocupação. “Estamos enfrentando resistência de grupos com interesses contrários”, relatou Dona Cícera, atual presidenta da Colônia Z07, que conta com o apoio do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) como importante aliado na luta pela criação da RESEX, além de outros parceiros.

Enquanto parte da população acredita que a região não produz mais pescado, Cícera apresentou números coletados em parceria com universidades que mostram outra realidade. “Registramos capturas de 50 kg de tainha e 40 kg de carapeba em um único dia de pesca”, revelou, com base em censos desenvolvidos com pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Francisco de Santana, pescador e construtor de barcos na região, conhecido como Sr. Chico, um dos organizadores do evento, foi enfático:
“Pescadores que também atuam na área do turismo alternam entre as atividades conforme a temporada. Pessoas que trabalham no turismo praticam a pesca quando o turismo está em baixa.”

A reunião também destacou a importância do uso inteligente das redes sociais como ferramenta de empoderamento. “Precisamos mostrar nosso trabalho nas plataformas digitais”, defenderam Sr. Chico e Karla Albuquerque, pescadores da Colônia. “Isso gera visibilidade importante para nossas atividades e serve como defesa dos nossos direitos.”
Entre redes e refeições: a luta por saúde e soberania alimentar na Ilha de Deus

Recife, 11/08/2025 – Na sede da ONG Caranguejo Uçá, referência na Ilha de Deus, recebeu uma roda de conversa organizada em parceria com o grupo de pesquisa TAPIOCA. O encontro teve como objetivo apresentar resultados preliminares de entrevistas realizadas com pescadores da comunidade, em continuidade ao trabalho de pesquisa “Gestão Costeira Participativa” iniciado em Rio Formoso.
O tema central foi a percepção dos riscos da profissão de pescador artesanal e as soluções propostas pelos próprios trabalhadores para enfrentá-los. Durante o diálogo, pescadores e membros da ONG ressaltaram a importância de que esses resultados sejam levados ao conhecimento de gestores públicos e incorporados em processos de decisão que afetam diretamente a pesca artesanal.
O evento contou com a participação de nutricionistas do grupo Qualinutri Consultoria, que realizaram consultas com os pescadores. Um dos pontos levantados foi o consumo excessivo de frituras, identificado como fator de risco adicional à saúde da comunidade.

“Esse acúmulo de frituras aumenta calorias, gordura visceral e colesterol”, alerta uma das nutricionistas presentes. A recomendação médica é clara: no máximo duas frituras por mês. Na Ilha de Deus, essa frequência é superada em oito vezes.
Qualinutri Consultoria
A atividade combinou apresentação e debate aberto, fortalecendo a troca entre ciência e saber tradicional. Ao final, houve o sorteio de kits de proteção individual (camisa UV, protetor solar e botas), como incentivo a práticas mais seguras no cotidiano da pesca.
Negligência institucional e memória do colapso
Edson Fly, do Caranguejo Uçá, aponta outra face da crise: “Quantificar quantos pescadores existem em Recife é uma necessidade urgente”. Sem dados oficiais, políticas públicas ficam cegas. Os relatos se multiplicam: pescadores acidentados sendo negligenciados em postos de saúde, falta de defeso para espécies-chave como sururu e a ameaça fantasma da privatização de áreas pesqueiras.

Edson Fly, do Caranguejo Uçá, aponta outra face da crise: “Quantificar quantos pescadores existem em Recife é uma necessidade urgente”
Edson FLy
Fly lembra da grande escassez de 1982 e 1992, quando o sumiço do pescado forçou a comunidade a se reinventar: “Temo que passemos por isso novamente”. A poluição, mudanças climáticas e a falta de aplicação das leis da pesca artesanal criam uma “tempestade perfeita”.
Entre as propostas concretas discutidas estão:
- Desenvolvimento de técnicas culinárias alternativas com participação comunitária;
- Campanhas sobre a melhor higienização dos hortifrutis;
- Editais conjuntos entre pescadores, poder público e instituições de pesquisa;
- Utilização de kits de proteção (protetores solares, camisas UV, botas e repelentes).
O encontro terminou com um consenso: é necessária uma abordagem multidisciplinar que una saber tradicional e científico.
Presença acadêmica
Pesquisadores do LMI TAPIOCA presentes ao evento reforçaram o compromisso com a comunidade. “Essa troca entre conhecimento tradicional e científico é fundamental para a construção de políticas pesqueiras eficazes.”
Agradecimentos: equipe Qualinutri Consultoria, Coletivo Caranguejo Uçá, pescadores da Ilha de Deus e Rio Formoso.
Autor: Cristiano Lopes (LMI TAPIOCA/Naturabit)
Revisão do Texto: Latifa Pelage (LMI TAPIOCA), Cícera Batista (Presidenta da Colônia Z07 de Rio Formoso), Karla Avelino(Pescadora da Colônia Z07 de Rio Formoso)


