Neste mês de dezembro, deu-se início a um projeto dedicado à construção colaborativa da gestão costeira, unindo esforços de pescadores da Ilha de Deus e Rio Formoso com pesquisadores do Projeto de Pesquisa e Extensão Tapioca. Apesar das divergências entre os dois territórios tradicionais pesqueiros, sendo o primeiro uma área urbana e o segundo uma zona rural, ambos compartilham semelhanças cruciais, como serem regiões pesqueiras circundadas por manguezais. São áreas onde os pescadores lutam pela preservação da tradição ancestral da pesca, com um papel significativo desempenhado pelas mulheres nas atividades cotidianas e na liderança das lutas.
Em um cenário ideal para a gestão costeira participativa, uma mesa com um mapa central é cercada por diversas pessoas interessadas em ocupar esse espaço. Participam de diálogos construtivos, buscando organizar o território de maneira equitativa e justa, embasadas por uma riqueza de informações que orientam suas decisões
Em um cenário ideal para a gestão costeira participativa, uma mesa com um mapa central é cercada por diversas pessoas interessadas em ocupar esse espaço. Participam de diálogos construtivos, buscando organizar o território de maneira equitativa e justa, embasadas por uma riqueza de informações que orientam suas decisões. No entanto, a realidade muitas vezes se distancia desse cenário ideal, com as interações humanas frequentemente associadas às relações de poder e influência, mais do que à busca pela equidade e de escutar os guardiões do território sagrado. Além disso, as decisões muitas vezes carecem de informações suficientes sobre os ecossistemas costeiros e a realidade local.
Diante desses desafios, o grupo de pesquisa e extensão TAPIOCA decidiu abandonar a frieza das bancadas acadêmicas para ouvir diretamente as vozes dos pescadores, construindo coletivamente conhecimentos que englobam aspectos ecológicos, sociais e econômicos. Essa iniciativa, realizada em colaboração com a Colônia Z7 e o Caranguejo Uçá, busca fugir da rigidez dos meios acadêmicos para entender de maneira concreta os desafios enfrentados pelos pescadores.
Os obstáculos que os pescadores enfrentam para participar ativamente na governança, aliados à negação de seus direitos territoriais, têm impactos negativos em seu trabalho, renda e saúde mental e física. A participação comunitária na tomada de decisões torna-se crucial para valorizar e apropriar-se do território, encontrando soluções que garantam a conservação do meio ambiente e o bem-estar das comunidades locais. Uma gestão eficaz dos ecossistemas costeiros é impraticável sem a inclusão do conhecimento ecológico local das pescadoras e pescadores, essencial para a sustentabilidade da pesca artesanal.
Durante o desenvolvimento deste projeto, a expectativa é criar mapas e dados em colaboração direta com os pescadores, ferramentas que serão utilizadas para discussões sobre a gestão costeira e para reivindicar seus territórios durante reuniões com tomadores de decisão. Além disso, o projeto pretende atuar de forma multidisciplinar na resolução de demandas locais. Este esforço coletivo visa não apenas transformar a realidade da gestão costeira em Pernambuco, mas também abrir caminhos para abordagens mais inclusivas e sustentáveis em projetos de pesquisa similares ao redor do mundo.