A acústica revela as chaves para a distribuição vertical da biomassa de animais marinhos

Uma equipe franco-brasileira – incluindo pesquisadores da UMR Marbec – estudaram os determinantes oceanográficos da estrutura vertical de organismos pelágicos no Atlântico tropical do sudoeste. Seu trabalho, baseado no uso da acústica e realizado durante a campanha ABRACOS, foi publicado no PLOS One.

Peixes, crustáceos, moluscos e águas-vivas são sensíveis aos parâmetros de seu ambiente marinho, como fontes de alimento, níveis de oxigênio e velocidade das correntes. A acústica oferece uma visão geral dos principais fatores determinantes de sua distribuição na coluna d’água.

A biomassa de animais marinhos não é distribuída aleatoriamente

Os pescadores sabem disso há muito tempo e levam isso em conta em suas práticas de pesca: os peixes vão para onde têm oxigênio e alimento suficientes. Os cientistas estão explorando essa questão de diferentes ângulos e usando técnicas cada vez mais sofisticadas. “A dinâmica do oceano inicia a distribuição de fontes de nutrientes que determinam os produtores primários e estes, por sua vez, moldam a distribuição dos níveis de alimentação subsequentes até que a comunidade pelágica em sua totalidade reflita a estrutura físico-química do oceano“, afirma Arnaud Bertrand, ecologista do IRD (UMR Marbec) e co-líder do LMI TAPIOCA para o qual este estudo contribuiu. Apesar disso, estudos de interações biofísicas em escala fina são raros e difíceis de realizar. Para melhorar nosso entendimento, os autores analisaram a estrutura vertical das principais variáveis oceanográficas e a distribuição da biomassa acústica usando dados acústicos de multifrequência. Esses dados fornecem informações de alta resolução sobre a distribuição de várias comunidades pelágicas.

Campanha no Atlântico tropical, no nordeste do Brasil

As campanhas multidisciplinares foram realizadas a bordo do navio oceanográfico francês Antea ao longo da costa brasileira durante duas estações contrastantes em termos de estrutura termohalina? e de dinâmicas das correntes e produtividade. Além dos ecobatímetros acústicos, foram necessários vários instrumentos de medição para adquirir dados sobre condutividade, temperatura, profundidade, fluorescência, oxigênio dissolvido, teor de clorofila e velocidades médias de corrente. “Esses dados nos permitem descrever a “paisagem oceânica”, ou seja, as características verticais dos fatores ambientais“, explica Ramilla Assunção, oceanógrafa da Universidade Federal de Pernambuco (Recife, Brasil). Todas essas medições foram complementadas pela coleta de amostras biológicas, como zooplâncton, águas-vivas, crustáceos, cefalópodes (lulas, por exemplo) e peixes. Essa foi uma oportunidade de ver que a biodiversidade era muito maior do que o esperado, e até mesmo de descobrir algumas espécies novas! Essa fauna está distribuída desde a superfície do oceano até suas profundezas, de acordo com as características das espécies, as estações do ano e a alternância entre o dia e a noite.

Variações verticais dia/noite e sujeitas às estações do ano

A análise da influência dos fatores biofísicos na estruturação vertical da biomassa acústica revela que a intensidade da corrente, a estratificação, a clorofila e o oxigênio são as variáveis dominantes que moldam a paisagem acústica. Entretanto, sua importância relativa depende da zona, da profundidade, do ciclo diário e, consequentemente, das estações, devido à grande variabilidade hidrodinâmica observada entre a primavera e o outono. O oxigênio dissolvido parece ser um fator determinante apenas em áreas onde está em menor concentração. Esse estudo de relações verticais em pequena escala levou à descoberta de migrações assíncronas: de fato, em várias espécies de peixes (por exemplo, peixe-lanterna), a população inteira não responde de forma síncrona às variações diárias, com apenas indivíduos “famintos” migrando durante um determinado ciclo dia/noite. “Nossos resultados também sugerem que os organismos marinhos parecem evitar correntes fortes, acrescenta Arnaud Bertrand. Enquanto até agora se pensava que a distribuição vertical dos organismos era limitada por relações biofísicas simples, estamos revelando uma infinidade de processos mais complexos que variam no tempo e no espaço.


Publicação: Assuncao R., Lebourges Dhaussy Anne, da Silva A. C., Roudaut Gildas, Ariza A., Eduardo L. N., Queiroz S., Bertrand Arnaud. 2023. Fine-scale vertical relationships between environmental conditions and sound scattering layers in the Southwestern Tropical Atlantic. PLOS One, 18 (8) : e0284953. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0284953