Amazomix campaign Logbook: Impact of physical processes on the marine ecosystem at the mouth of the Amazon

Com o objetivo de entender como funciona o ecossistema de embocadura do rio Amazonas, o Amazomix reuniu 17 pesquisadores do Brasil e da França que embarcaram no dia 27 de agosto no navio Antea e navegaram durante 42 dias. Partindo de Caiena, na Guiana Francesa, o navio navegou até a foz do rio Amazonas em mais de 6.000 km para estudar os impactos das correntes, da pluma amazônica e dos processos de turbulência sobre o funcionamento do ecossistema marinho.  O LMI Tapioca (UFPE) foi um dos parceiros da campanha, junto com o Bioimpact (UFRPE), o Institut de recherche pour le développement (IRD – França) e o Laboratório Franco Brasileiro de Pesquisas em Ciências do Mar.

Em entrevista à rádio francesa Guyane La Première, o chefe da expedição Amazomix, Arnaud Bertrand, afirmou na primeira semana que a campanha era essencial para descobrir “um novo inventário da biodiversidade da região, um passo essencial para promover uma gestão adequada”. Bertrand acrescenta também que “a foz do Amazonas é uma das áreas menos estudadas no mundo”.

Arnaud Bertrand Credits: midilibre.fr

Com o fim das duas primeiras partes do Amazomix, Bertrand afirma que foi coletado bastante material de pesquisa: “Conseguimos compreender fenômenos físicos, como o impacto da pluma do rio Amazonas ou as ondas internas de maré, e como por exemplo essas ondas vão aumentar a produtividade do ecossistema”.

Além da presença da pluma dessalinizada do Amazonas, o litoral norte do Brasil e as Guianas são um corredor chave de circulação oceânica impulsionada por ventos, temperaturas e salinidade.  A água quente e salgada move-se para o norte onde resfria, enquanto a água fria e mais densa afunda no fundo dos oceanos e retorna para o sul. Segundo estudos recentes, essa circulação, que desempenha um papel fundamental na regulação do clima mundial, está em seu ponto mais baixo em mais de mil anos e está perto de se romper, com consequências dramáticas para as temperaturas e precipitação dos países limítrofes do Atlântico e, mais geralmente, em escala global. A principal corrente que corre ao longo da América do Sul nas latitudes, onde estava localizado o Antea, é a Corrente Norte Brasileira (NBC).

Durante a Amazomix, um planador submarino autônomo, também conhecido como glider, foi utilizado pela equipe científica. O glider é um robô que possui 1,50 m de comprimento e pesa entre 50 e 60 kg. Suas “asas” permitem que ele deslize pela coluna de água até uma profundidade de 1000 m, seguindo trajetórias irregulares. É um equipado com sensores físicos (pressão, condutividade, temperatura) e biogeoquímicos (fluorescência, oxigênio, nitratos, retrodifusão ótica). Os dados registrados durante os mergulhos são retransmitidos para terra cada vez que chegam à superfície, devido ao sistema de comunicação por satélite.

Resultado

A campanha Amazomix foi um sucesso com resultados que excederam as expectativas. Essa boa resolução permitirá compreender o funcionamento físico e biológico do ecossistema na foz do rio Amazonas, uma área dos oceanos do mundo ainda pouco estudada. Se a biodiversidade se revelou ainda mais rica do que esperado, deve-se provavelmente a fenômenos físicos: ligados à maré e ao relevo continental, estes provaram ser mais ativos do que noutras partes do globo, com consequências para o ciclo dos nutrientes.

Todas as amostras biológicas foram desembarcadas no Brasil, o país onde foram recolhidas; para isso, um barco de pesca, contratado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), encontrou o Antea a mais de 40 milhas náuticas da costa, na foz do Rio Pará. Apesar das dificuldade, foi possível passar as amostras para o barco inventando uma estratégia: cerca de vinte latas e caixas cheias de organismos conservados em formaldeído ou congelados foram fixadas ao longo de uma linha, a fim de transferir o material sem risco para a tripulação ou para os navios. 

De acordo com os protocolos internacionais e a lei brasileira, todas as amostras biológicas permanecem no Brasil. Devido à cooperação franco-brasileira com várias instituições, os dados recolhidos serão compartilhados entre toda uma comunidade de pesquisadores.