A plataforma amazônica engloba uma variedade de processos físicos, tais como entradas fluviais, correntes costeiras, mesoescala, filamentos, marés, ondas internas e afloramento, influenciando as concentrações de nutrientes, clorofila e matéria em suspensão. Também afetam o equilíbrio energético, salino e térmico; parâmetros que condicionam as interações físicas/biogeoquímicas e o funcionamento do ecossistema, desde as bactérias ao plâncton até recursos haliêuticos. Em particular, as ondas de maré internas são muito enérgicas nesta região. Têm impacto ciclos biogeoquímicos através da mistura vertical induzida pela sua dissipação ou movimentos verticais induzidos pela sua propagação. Permitem assim uma entrada significativa de nutrientes na camada eufótica melhorando a produção primária, conforme observado à superfície a partir de dados de aquarela. Ondas de maré internas poderiam assim influenciar a bomba biológica e o ciclo do carbono. Além disso, a biodiversidade marinha global da região, das bactérias aos peixes, não está bem descrita. A conectividade das espécies no Atlântico tropical é também uma questão ainda em aberto. A região das Caraíbas é, de longe, mais rica em biodiversidade do que a brasileira. Uma das hipóteses é que a pluma amazônica, que se pode estender até 3.000 km da nascente, constitui uma barreira para alguns organismos. A Plataforma Amazônica é assim um laboratório experimental ideal para estudar o impacto dos processos físicos na estrutura e função dos neríticos e ecossistemas marinhos oceânicos.
Nesse contexto, o objetivo da pesquisa multidisciplinar AMAZOMIX foi estudar o impacto da Pluma do Rio Amazonas, marés internas e a mistura turbulenta relacionada ao fenômeno em ecossistemas marinhos em contraste com regiões que estão fora da plataforma amazônica. Para tal, o projeto multidisciplinar AMAZOMIX reuniu físicos, biogeoquímicos, bio-optometristas e biólogos. A estratégia de amostragem consiste na aquisição simultânea de um conjunto abrangente de compartimentos ambientais e biológicos, incluindo microrganismos (bactérias, fito e zooplâncton) e níveis tróficos mais elevados (micronecton, peixes demersais e pelágicos). AMAZOMIX é a primeira campanha a desenvolver esta abordagem multidisciplinar da plataforma amazônica. Os resultados in situ serão analisados por meio de ferramentas e dados digitais, a partir da modelação (1/36°, com e sem marés, 1/12° acoplado) e análises de dados de satélite.
A pesquisa é organizada Instituto Francês para o Desenvolvimento (IRD), CNRS e CNES em França, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Federal Universidade do Pará (UFPA) e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) para o Brasil com apoio do papel estruturador do Laboratório Conjunto Internacional (LMI) TAPIOCA (IRD, UFPE, UFRPE).
Os serviços técnicos, unidades de investigação e universidades estão associados ao AMAZOMIX, dos quais: UMR MARBEC (Universidade de Montpellier, IRD, Ifremer, CNRS), UMR LEGOS (CNES, CNRS, IRD, Universidade Paul Sabatier), UMR LEMAR (UBO, CNRS, IRD, Ifremer), DT-INSU (CNRS), US IMAGO (IRD), UMR LOG (CNRS, IRD, Universidade de Lille, ULCO), UMR MIO (Universidade de Aix-Marseille, Universidade de Toulon, IRD, CNRS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Brasil), Instituto Nacional Brasileiro para a investigação espacial (INPE, Brasil) e a Universidade do Porto (Portugal). Rockland Scientific também participou na campanha como uma organização industrial.
Além dos cientistas de campo, a AMAZOMIX inclui uma equipe inteira que permanecerá em terra. Reúne cerca de 70 investigadores brasileiros, franceses e de outros países, dos quais irão colaborar na formação em pesquisa para cerca de 50 estudantes do mundo. AMAZOMIX é o resultado de um trabalho federativo de longa data baseado em diversos projetos financiados, dentre eles o TRIALTAS European, promovido pelo LMI TAPIOCA (IRD, UFPE, UFRPE). Enfatiza-se que a análise dos dados recolhidos será efetuada conjuntamente pelos diferentes parceiros e que os seus resultados serão reunidos.