Primavera Silenciosa: conheça o legado de Rachel Carson

Nesse Dia do Combate à Poluição gostaríamos de relembrar e destacar o papel de uma das maiores protagonistas na luta em prol do meio ambiente: Rachel Carson.

Rachel Carson foi uma bióloga marinha, escritora, cientista e ecologista norte-americana. Neste ano completam 60 anos do lançamento do seu livro “Silent Spring” (Primavera silenciosa), um marco do movimento ambientalista em todo o mundo, publicado em 1962. Na obra, considerada uma das mais importantes do século XX, Rachel alerta sobre o perigo dos pesticidas, especialmente o DDT, aos seres vivos, à saúde humana e à natureza de maneira geral. Ela foi a primeira cientista a pensar no meio ambiente como algo holístico. 

Uso de DDT no rebalho de ovelhas, num rancho de Medford, Oregon, EUA.

Mulher e cientista num mundo masculino, seus primeiros trabalhos foram assinados como R.L. Carson para não revelar sua condição feminina e, consequentemente, atrair descrédito às suas pesquisas. Rachel anteviu, já nos anos 50, questões cruciais que se fazem presentes até hoje. Ela foi a primeira cientista a constatar que o uso de pesticidas agrícolas atinge todo o ecossistema (solo, águas, fauna e flora), entra na cadeia alimentar e termina por chegar às nossas mesas. “Primavera Silenciosa” provocou grande repercussão, quer no campo científico, quer no campo da ética e da política. Na época, o DDT era visto como um avanço tecnológico, sendo amplamente utilizado em lavouras, hortas e jardins nos Estados Unidos. O pioneirismo da autora custou-lhe uma perseguição implacável e uma campanha difamatória por parte dos fabricantes e usuários de DDT nos EUA. 

Rachel Carson

Em 1972, o DDT foi banido no país, mas Carson não testemunhou a decisão. Ela morreu em 1964, vítima de câncer de mama. No entanto, seu legado permaneceu: em 1973, ela foi incluída no National Women’s Hall of Fame e, em 1980, ganhou a Medalha Presidencial da Liberdade. Sua principal obra, o livro “Primavera Silenciosa” é considerada fundadora da consciência ambiental moderna. Já havia pessoas preocupadas com a devastação da natureza antes, mas o movimento ecologista de caráter político certamente foi impulsionado pela publicação do livro. Ao criticar o uso dos agrotóxicos, Carson tratava um tema fundamental, a relação do homem com a natureza. 

O grande feito de Rachel Carson em Primavera Silenciosa não foi apenas desenvolver pesquisas a respeito dos efeitos deletérios e indesejados dos pesticidas, até porque os seus argumentos centrais são construídos com dados secundários. O grande feito de Carson foi divulgá-las, apresentá-las aos atores-chave da política e ao público leigo estadunidense em linguagem compreensível e agradável. Desse modo, o cidadão estadunidense comum foi informado sobre o que estava em jogo. Isso lhe permitiu tomar parte das discussões e pressionar os agentes públicos.

No Brasil, o uso do DDT foi proibido apenas em 2009 (Lei Nº 11.936/2009). Apesar da proibição do DDT, o uso de outros pesticidas ainda é intensamente realizado. Mesmo passados 60 anos, o livro de Rachel Carson permanece extremamente atual e relevante. Muitas das restrições da autora aos pesticidas organoclorados mantiveram a sua pertinência ao longo das últimas décadas, após a realização de experimentos e testes nas mais diversas disciplinas científicas. Esses compostos podem causar disfunções orgânicas crônicas em mamíferos, além de incontáveis impactos ambientais de difícil previsão, controle, mensuração e reversão. Pesquisas sugerem, dentre outras conclusões, que:

  • As pragas agrícolas de fato têm desenvolvido resistência a concentrações cada vez mais altas dos diferentes pesticidas.
  • A depender de temperatura, acidez, umidade e quantidade de matéria orgânica, os organoclorados podem, sim, ficar retidos no ambiente por longos anos.
  • A ampla e contínua utilização de praguicidas provocou a contaminação de rios, lençóis freáticos e de oceanos, de modo que se pode constatar a presença de pesticidas sintéticos nos locais mais improváveis, tais como na neve que precipita no Alasca ou no gelo da Antártida.
  • A contaminação dos cursos hídricos com pesticidas tem provocado dificuldades reprodutivas para determinadas espécies de peixe, tais como as trutas-do-mar. 
  • A ingestão de DDT enfraquece as cascas dos ovos das aves, o que, em todo o mundo, desde a década de 1980, tem reduzido drasticamente as populações de águias, falcões e açores.

Referência:

Maia, J. C., & de Andrade Franco, J. L. (2021). De naturalista a militante: a trajetória de Rachel Carson. Desenvolvimento e Meio Ambiente56.

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